para compartilhar sabores e lembranças olfativas daqui e de outras terras...como o nhoque da nona, o arroz com bacalhau de vovô, as almondegas de minha mãe, o risoto de linguiça do meu pai, o thanksgiving dinner da mammy, o german chocolate cake da cindy, o doce de leite de tia mercedes, o doce de cidra da aninha, o doce de mamão da célia, o doce de pera da margarida, as pimentas da celha, os bolos da semiramis, os patês da rosana e por ai vai....


sexta-feira, 30 de março de 2012

para refletir: com Miguel Falabella - saudade dói

toda vez que me sento na varanda de casa, para tomar meu café forte após o almoço tardio de finais de semana, apesar da presença do marido, um silencio melancólico de alma toma conta de mim, questão de poucos segundos, mas ele sempre está presente.
é inevitável.
ultimamente andei refletindo melhor sobre isto e cheguei a conclusão, de  que o sinto, é uma saudade de mim, de que este silencio de alma é constatação que o tempo não perdoa...
é implacável!
  vista do céu de outono e bailado da biruta que fica pendura na minha varanda

Saudade dói

Trancar o dedo numa porta dói.
Bater com o queixo no chão dói.
Torcer o tornozelo dói.
Um tapa, um soco, um pontapé, doem.
Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua,
dói cólica, cárie e pedra no rim.
Mas o que mais dói é a saudade.

Saudade de um irmão que mora longe.
Saudade de uma cachoeira da infância.
Saudade de um filho que estuda fora.
Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais.
Saudade do pai que morreu, do amigo imaginário que nunca existiu.
Saudade de uma cidade.
Saudade da gente mesmo, que o tempo não perdoa.
Doem essas saudades todas.

Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama.
Saudade da pele, do cheiro, dos beijos.
Saudade da presença, e até da ausência consentida.
Você podia ficar na sala e ela no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá.
Você podia ir para o dentista e ela para a faculdade, mas sabiam-se onde.
Você podia ficar o dia sem vê-la, ela o dia sem vê-lo, mas sabiam-se amanhã.
Contudo, quando o amor de um acaba, ou torna-se menor,
Ou quando alguém ou algo não deixa que esse amor siga,
Ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.
Saudade é basicamente não saber.
Não saber mais se ela continua fungando num ambiente mais frio.
Não saber se ele continua sem fazer a barba por causa daquela alergia.
Não saber se ela ainda usa aquela saia.
Não saber se ele foi na consulta com o dermatologista como prometeu.
Não saber se ela tem comido bem por causa daquela mania
de estar sempre ocupada;
se ele tem assistido às aulas de inglês,
se aprendeu a entrar na Internet
e encontrar a página do Diário Oficial;
se ela aprendeu a estacionar entre dois carros;
se ele continua preferindo Malzebier;
se ela continua preferindo suco;
se ele continua sorrindo com aqueles olhinhos apertados;
se ela continua dançando daquele jeitinho enlouquecedor;
se ele continua cantando tão bem;
se ela continua detestando o MC Donald's;
se ele continua amando;
se ela continua a chorar até nas comédias.

Saudade é não saber mesmo!
Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos;
não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento;
não saber como frear as lágrimas diante de uma música;
não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.
Saudade é não querer saber se ela está com outro, e ao mesmo tempo querer.
É não saber se ele está feliz, e ao mesmo tempo perguntar a todos os amigos por isso...
É não querer saber se ele está mais magro, se ela está mais bela.
Saudade é nunca mais saber de quem se ama, e ainda assim doer;

Saudade é isso que senti enquanto estive escrevendo e o que você,
provavelmente, está sentindo agora depois que acabou de ler... 

Miguel Falabella



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9 comentários:

  1. Que linda mensagem Angela querida, não conhecia ainda mais sendo de Miguel Falabella. Saudades é a pior dor que existe mesmo dor da alma e do coração por não ter mais o que tivemos e amamos tanto um dia. Adorei, Bjocas ótimo final de semana

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  2. Angela, adorei o texto do Falabella... Faz a gente refletir sobre a vida, a família,os amigos... Tudo aquilo que vivemos. Mas isso é a magia da saudade... Só sentimos saudades daquilo que vivemos, daqueles que encheram nossas vidas de alegria, de amor, de ensinamentos... Beijos, amiga... Recordar e sentir saudades é viver... Com carinho, Rosana Garcia.

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  3. Eu só sei que dói né minha amiga

    Sendo de alguém, ou da gente mesmo...a saudade dói demais...

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  4. Sei muito bem o que é isto, estou vivendo na pele e na alma.

    Este texto acalenta e me ajuda a enfrentar o dia de hoje, o amanhã e a rotina que logo vem, mas a saudade ... esta não vai embora, nunca!


    Audeni

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  5. a saudades que mais dói é a de voce! ainda bem que é só de vez em quando! te amo

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  6. Angela, conheço essa saudade que vc tem sentada na sua varanda...tbm acho que é de mim mesma, de momentos que já se foram e não voltam mais!!
    Ao ler, meus olhos ficaram marejados, lembrei-me de meu pai e outros queridos...
    Obrigada por partilhar!
    Ótimo domingo!!

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  7. Angela, querida,

    Bela reflexão, o seu desfecho foi perfeito, com o passar dos anos, nos pegamos sentindo saudades de nós mesmas, da pessoa que fomos e não somos mais, rsrs. Eu senti muito isso e até me vinha à mente os versos de uma antiga canção da Evinha:

    'Eu vou voltar aos velhos tempos de mim
    Vestir de novo o meu casaco marrom
    Tomar a mão da alegria e sair
    Bye bye, Cecy "nous allons"' rsrs.

    Saudade dói, seja da gente ou de outras pessoas, rsrs.

    Beijoca, boa noite e boa semana.

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  8. Minha querida
    Sei bem o quanto a saudade dói:(
    Receba o meu abraço apertado e cheio de amor!
    Fique com Deus.
    Léia

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  9. Não conhecia esse texto do Falabella e achei muito verdadeiro e profundo.
    Por falar em saudade, a filha vem nesse final de semana e já estou na empolgação de preparar um cardápio especial.
    Ontem preparei um post falando de momentos que ficaram no passado, em torno de uma grande mesa.
    Bjs.

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