trago o araça amarelo, uma frutinha do mato, que tenho plantada aqui no pomar.
a mudinha, bem pequenina, ganhei de um amigo querido, confesso que achei que nem iria para frente, pois se tratava de uma mudinha miúda, bem franquinha, daquelas que vem no cartucho de papelão e que são doadas em eventos.
minha persistência com mudinha, me brindou com uma bela árvore, ainda pequena, mas neste ano já carregou de frutos cor de ouro
alguns frutos servi in natura, bem geladinhos.
a outra parte fiz um docinho.
um docinho exatamente como eu fazia quando era garota e o velho pé de araçá vermelho do quintal se enchia de frutos.
bem, quase 40 anos se passaram, entre um doce e outro.
a vida deu muitas voltas, antes eu subia na árvore e balançava o tronco para derrubar os frutos, hoje fico atenta para não me desequilibrar na hora de apanhar os frutos da pequenina árvore, mas o que importa é que a memória do doce de araçá permaneceu intacta.
doce de araçá amarelo
fazer uma calda com açúcar e água, quando começar engrossar colocar os frutos em metades e alguns cravos, cozinhar até que a calda volte a engrossar e os frutos estejam macios.
servir com queijo branco ou como calda de sorvetes.
Antologia
Guardo na boca os sabores
da guabiroba e do jambo,
cor e fragrância do mato, colhidos no pé. Distintos.
Araticum, araçá,
ananás, bacupari,
jatobá...todos reunidos
congresso verde no mato,
e cada qual separado,
cada fruta, cada gosto
no sentimento composto
das frutas todas do mato
que levo na minha boca
tal qual me levasse o mato.
Carlos Drummond de Andrade, "Antologia", in Boitempo, coletânea de poemas escritos entre os anos de 1968, 1973 e 1979.